É sempre assim que começa. Um grupo de amigos que vai
explorar o desconhecido e o sobrenatural. Há sempre três caracteres, quando não
mais, mas os principais estão neste grupo. O rapaz calmo, certinho, que
dificilmente se assusta, que concorda em ir na boa, mas não goza nem tem medo
(pelo menos assim aparenta) e que, geralmente, é o primeiro a desaparecer. É o
primeiro porque é o que menos alarido causa no grupo e a sua indiferença ao
envolvente leva os demais a não estranharem a sua ausência. “Deve estar a
explorar a zona algures. Já volta.” – pensam os outros. Há sempre a rapariga
assustada, amedrontada, que grita por tudo e por nada. Sussurra o vento e
“Ahhhhhhhhhhhh!”. Cai uma folha da árvore e “Ahhhhhhhhhhhh!”. Alguém a assusta
e “Ahhhhhhhhhhhh”. Enfim, geralmente é a segunda a desaparecer e a que depois
de tantos berros e sustos, dá um berro a sério e puff! Vá-se lá saber como
desapareceu e o que lhe aconteceu. Ninguém viu nada. Por último, há o rapaz
gozão, que não tem medo de nada, que diverte-se a assustar os demais, em
especial a rapariga assustadiça, e que, de repente: - “Ei! Onde foram todos?”.
Continua a olhar em redor. Nem vestígios dos outros. Não liga. Pensa que o
rapaz deve aparecer em breve. Pensa que a rapariga saiu a correr e trancou-se
no carro a tremer de medo. Até que algo misterioso o assusta. Não vou contar o
que é. Ninguém sabe. Só ele. E quem mais viu. Ele grita assustado. Agora é a
vingança. Verá todos os outros mortos e ensanguentados e terá o mesmo fim. Ah ah ah ah!
É, no mistério da noite, em lugares desertos de movimento,
florestas, casas de aspecto abandonado, que os caldeirões são colocados ao
lume, as caudas de salamandra e o leite de morcegos orelhudos são misturados com
ervas especiais até criar uma sopa saborosa e suculenta. Pequenas luzes, velas
talvez, supõem no exterior, a presença de alguém nesse compartimento. Cá fora,
uma pobre alma, há muito torturada, vê à sua frente a sua salvação, a sua
hipótese de ser libertado. Ele dá um pulo. E mais outro. Notam a sua presença.
Acredita que vai ser salvo. Mas não. A sua hipótese de salvação foge,
assustada. Alguém se aproxima. Não, não és tu. Tu não me podes salvar. Alguém
lhe aponta qualquer coisa. A pobre alma não sabe o que é. São tantos anos ali.
Nunca viu aquilo. A seguir, todos se afastam. Ei! Esperem! Voltem! Não me
deixem aqui! Mas ninguém lhe liga. O pequeno sapinho fica de novo sozinho à
espera que alguém volte a passar, uma rapariga, anseia ele, que o beije e o transforme
de novo em príncipe.
Quando o silêncio da noite é perturbado, as forças do mal revoltam-se.
As velhas árvores da floresta agitam os seus ramos, furiosas. Quem se atreve a
irritá-las terá que ter um fim. Sob o grandioso brilho da lua cheia, uma névoa
se forma. Tem que encontrar quem ousou agitar os espíritos e expulsá-los
daquele lugar. Por estradas, cada vez mais estreitas e sem nenhum escape,
persegue-os. Primeiro sob uma bola de névoa, tenta amedrontar, mas em vão. Os
olhares esbugalhados do que é aquilo e uma hipótese lógica que desenvolvem impede
o medo. Depois sob uma forma humana misteriosa persegue-os até que deixem
aquele lugar enigmático e aterrador.
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