Já passaram 14 anos... E parece que foi ontem que fui
contigo à horta pela última vez. Já estavas muito doente e acho que foi a
última longa caminhada que fizeste. Eu estava feliz por ir sozinha contigo. Já
me considerava crescida para poder ir passear contigo. Sim, para mim era um
passeio. Sentia-me livre e à vontade para falar sobre o que quisesse. Ao
chegarmos piquei-me em urtigas. “- Olha que isso agora dá muita comichão!” –
disseste. “- Não dá nada! Isto passa!” – respondi prontamente, armada em menina
corajosa. Mas tinhas razão, apesar de eu ter passado o tempo todo fingindo que
aquilo não me estava a incomodar. Enquanto esperava que fizesses a tua tarefa,
falámos de tantas coisas. Falámos dos gatos e dos cães que tinhas. Na altura,
eu não os largava. Eu adorava o Joli e fiquei triste por o deixar de ver depois
que te foste. Desapeguei-me dos animais. Agora quem vê a minha relação com um
cão ou um gato jamais acreditará que um dia brinquei tanto com eles.
Foi, exactamente no dia de hoje, há vários anos atrás que vi
o teu rosto, imóvel, pela última vez. Chorei muito. Gostava muito de ti e nunca
esquecerei a última vez que me abraçaste e as palavras carinhosas que me
disseste. Não sabia que era a última vez que falavas comigo. Eu era uma criança
e acreditava em milagres. Mas eles não existiram. Na minha mente ficaram também
gravados os últimos momentos em que te vi com vida, uma semana depois, ao
longe, no corredor do hospital. Tu gritavas e as enfermeiras apressaram-se a
correr as cortinas. Não deixaram entrar mais ninguém naquele quarto.
Agora, não há um ano em que não recorde de ti, neste dia. De
ti e de tanta coisa associada a este dia trágico que muitas fobias desenvolveu
em mim. Mas já superei algumas, acredita.
Mas, hoje, já não sou aquela menina que conheceste. Cresci. Segui um
rumo diferente ao que dizia querer seguir na altura, mas continuo a desenhar
tal como fazia ao teu lado. E continuo a sentir muitas saudades de ti.
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