quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Morrer por amar...

Hoje li um texto cujo título era “ Ninguém morre de amor” e concluía mencionando essa mesma frase: nos dias de hoje ninguém morre de amor. E é verdade.

Hoje já não há histórias impossíveis e fatais. Já lá vai o tempo em que se acreditava no Romeu e Julieta: se tu morres, eu mato-me. E assim ficam os dois mortos, tudo muito triste, e correm os rumores que tornam a historia, trágica, maravilhosa.

Já lá vai o tempo em que se dizia: se não me queres, mato-me. Para quê nos matarmos por alguém se essa pessoa não vai sentir remorsos nem sentir a nossa falta? Só se iria dar trabalho a inúmeras pessoas: as que tinham que limpar o sangue que ficara do chão caso um tiro na cabeça fosse o meio escolhido para a acção, as que tinham de abrir a cova no cemitério, as que iam ter que fingir que sentiam muito a ausência dessa pessoa e derramar muitas lágrimas de crocodilo, etc., etc., etc..

As histórias de hoje são mais do tipo: se não me queres, mato-te. Quantas e quantas vezes não ouvimos no telejornal a notícia de que fulano tal matou a namorada, a mulher ou outra porque foi rejeitado? E, já agora, mata o amante, o amigo, a madrinha, o gato e o periquito. E se possível, depois disto tudo, chega à conclusão de que estão todos juntos no outro mundo, dá um tiro na cabeça e pronto. Morrem todos e vão continuar a discussão às portas de São Pedro. Geralmente o inverso: mulher que mata o marido ou o que quer que este lhe seja, não se ouve tanto, ou então sou eu que ando mais desatenta. Geralmente a mulher encomenda o serviço.

Mas o que me chamou a atenção não foi quem mata quem, mas a frase inicial. E a verdade é que ninguém morre de amor. Morre-se POR amar, pelo sofrimento que este amor causou, que causa ou que continuará a causar. Nem sempre se morre fisicamente. Muitas vezes morre-se interiormente. Os sentimentos causados pela infinita dor que magoa podem matar aos poucos a pequena alma que existe.

Morrer por amar é deixar a alma definhar. É não ter prazer por acordar. É não ter prazer em nos arranjarmos, vestir uma roupa bonita. É não ter prazer em comer chocolate ou qualquer outra gulodice. É não ter vontade de sair, de passear. É não ter vontade para quase nada. É querer passar o dia a dormir. É não ter vontade de comer. É não ter vontade de falar. É não ter vontade de nos divertirmos. É não ter vontade de fazer o que gostamos.

É difícil. É muito difícil sair dessa tentação que pode nos ajudar a esquecer tudo. É preciso muita força, muita coragem. É preciso coragem para nos levantarmos todos os dias, olharmos para o espelho e nos arranjarmos. É preciso coragem para esboçar um sorriso em público quando desejamos chorar. É preciso coragem para pensarmos em coisas boas quando o nosso pensamento só nos conduz a tristezas. E acima de tudo, é preciso muita coragem para enfrentarmos o novo dia-a-dia, sós e com novas ideologias, novos sonhos.

4 comentários:

  1. Marisa, Dona e criadora deste Blogue. Não sejas tão fatalista, não tens os amigos? Deixa-me compartilhar uma SMS que um amigo meu me enviou, da autoria do poeta Vinicius de Morais, saravá!
    "Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A Alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição encoraja-me a seguir em frente, pela vida fora! Mas é delicioso que eles saibam que os adoro, embora não declare e não os procure sempre!"
    Moral da história, arranjem amores mais velhos e doentes e amigos mais novos e saudáveis (eu não adoeço há que meses!), assim morrem os amigos depois de nós... Esquece a brincadeira, o texto é bom e eu continuo a não resistir a forçar uma brincadeira parva sempre que me ocorre :)

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  2. Marisinha, depois de tantos pedidos de comentarios,acho que é finalmente hoje que a coisa se processa. Andava à espera de um post que não pudesse evitar comentar, e acho que esse post foi este.
    Com toda a franqueza, morrer de amor já não se usa e, mais francamente ainda, acho que nunca se usou. Romeu e Julieta não é uma historia invejável. É uma historia passada num tempo em que as regras eram outras, em que os sentimentos se liam de maneira diferente, não se pode comparar. E, em qualquer dos casos, acho que ninguém no seu juizo perfeito sonha com um amor pelo qual valha a pena morrer. Sonha-se, isso sim, com um amor pelo qual valha a pena VIVER.
    Corações partem-se todos os dias. É verdade. Mas não é porque o amor acaba. É porque ninguém nos ensina a lidar com a rejeição. Porque não queremos ser rejeitados. Porque culpamos o outro, que nos deixou primeiro, pelo fim dos nossos sonhos, dos nossos desejos, dos nossos prazeres. E o que é mais irónico? Quando somos deixados nunca dizemos que queremos voltar a ser felizes: dizemos que queremos que o outro seja mais infeliz do que nós somos. E isso é ridiculo. Como se a infelicidade de alguém alterasse qualquer bocadinho que seja a nossa própria condição. Ninguém merece as nossas lagrimas, nem as nossas tristezas. Ninguém vale os nossos sonhos e o nosso bem estar. Se vais ter saudades, tem-as da pessoa, dos bons momentos com ela, porque a pessoa era aquela e não há outra exactamente igual por aí, e os momentos foram aqueles e, se foram bons, vale a pena recordá-los porque também já não se vão repetir, nem repetiriam, mesmo se a pessoa ainda estivesse connosco. (continua)

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  3. (continuação)
    Mas foi só isso que se perdeu: a pessoa. Os sonhos não foram embora. A hipotese de os realizar não diminuiu. A capacidade para os realizar é tão elevada como dantes.
    O problema de hoje em dia é precisamente esse "se me deixas, mato-te", porque sentimos que temos direito a sentir-nos assim, numa época em que uma mulher já não depende efectivamente de um homem para nada, e muitas vezes o queremos manter apenas por teimosia, por capricho, porque sim, e não necessárimante por sermos assim tão felizes juntos.
    Não estou a dizer que não doi ficar-se sozinho quando ainda se ama alguém, porque doi, é claro que doi. Mas às vezes temos que nos dar ao luxo de sermos egoístas e tomar conta de nós, encarar que nunca ninguém nos vai fazer felizes a não ser que nós queiramos, ou vice versa, nunca ninguém nos vai fazer infelizes a não ser que nós deixemos. A saudade moi, é verdade. Moi e lembra de que foi importante, de que faz falta. Mas, poesias à parte, o que mais lembra é de que a ferida está lá. E quando há uma ferida, não nos faz assim tanta diferença que quem nos causou dor esteja a sofrer ainda mais: vai doer-nos na mesma e pronto. O que se tem que fazer é tratar da ferida para que pare de doer. Se o outro vai sofrer pelo caminho ou não, deixa que o tempo encarrega-se, porque gente que não sabe o que quer ao certo da vida acaba sempre por não ser muito feliz, porque nunca está satisfeito com nada. Ao menos tu sabes o que queres. E vais tratar dessa ferida como deve ser. Porque feridas doem e ardem e chateiam, e tendem a só piorar se se estiver sempre a mexer. Deixa o tempo fazer o trabalho dele. Deixa que passe. Deixa que cure, que cicatrize. O que foi vivido não vai ser menor se se deixar que passe. Andar para a frente não é desistir, é CONTINUAR. Desistir é insistir numa coisa, num sentimento, que já se sabe que não nos leva a lado nenhum. (continua)

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  4. (continuação) Um dia vais olhar para trás e pensar "Que disparate. Deixei que um homem que me disse que eu afinal não era assim tão importante se tornasse na coisa mais importante da minha existencia." Quem não nos dá valor não merece o nosso tempo, nem a nossa energia, menos ainda as nossas lagrimas. Tu ÉS importante, não importa quem te diga o contrário. Não deixes que ninguém abale a certeza do teu valor pessoal.
    Portanto, toca a tratar de manter essa coragem para sair da cama todos os dias, pores-te gira, e apreciar o dia como deve ser, começando a ver que, secalhar, não se perdeu nada de tão importante como isso. Perdeu-se um homem. Um que não nos quis. Um que não nos sabia fazer felizes. Um que, se não nos tivesse deixado primeiro, nós acabariamos por deixar mais tarde, quando nos apercebessemos de que ele não nos dava assim tanto valor como isso nem nos tratava como mereciamos. Tu és mais e melhor do que isso. Tu és uma mulher que merece um homem a sério, e não um menino que não quer crescer. Tu continuas gira, saudável, divertida, inteligente, bem formada, autonoma. Todos os teus sonhos continuam ao teu alcance. Todos os teus amigos continuam aqui para ti. Tu continuas a ter tudo o que tinhas antes. Ele é que ficou sem ti. E quando estiveres disposta a olhar à volta e encarar que afinal as coisas não estão assim tão diferentes, que a tua vida continua mesmo, só vais ter a ganhar com isso.
    Cabeça para cima! (e muito juizo dentro dela).
    Beijinhos!
    Ana

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